Preso por tentar matar o cunhado com disparos de arma de fogo, João Francisco da Silva, pai do menino João Miguel, de 10 anos – vítima de um dos assassinatos mais brutais registrados no Distrito Federal – foi mandado ao júri popular pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT).
João Francisco está detido no Complexo Penitenciário da Papuda desde fevereiro de 2024, por tentativa de homicídio. Segundo depoimento da irmã dele à Polícia Civil (PCDF), o crime ocorreu porque Carlos Alberto, companheiro dela à época, a agredia. Por isso, o réu e o ex-cunhado viviam em pé de guerra.
As versões sobre a motivação do crime são conflituosas. No dia da tentativa de homicídio, a dupla teve uma discussão. Segundo a irmã do autor dos disparos, Carlos teria confidencializado a ela que esfaquearia João Francisco se ele não tivesse fugido da briga. Mais tarde naquela data, João atirou contra o cunhado.
Carlos, contudo, negou os fatos. À PCDF ele informou que depois do conflito, teria saído para defecar ao lado do “barraco” onde morava e foi surpreendido pelo autor dos disparos.
O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) denunciou João Francisco por ter cometido o crime “por motivo torpe, consistente em desentendimento anterior”, e “mediante emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima”.
Por estar preso, João Francisco não pode comparecer ao velório do filho João Miguel, que ocorreu em setembro de 2024. A justificativa dada pelos órgão competentes foi a de que não havia escolta. A criança foi assassinada por uma suposta série de furtos e o sumiço de um cavalo.
Em nota, os advogados Jader Marques, Cecília Lorhane e Guilherme Augusto, que assumiram o caso pro bono, disseram que lutarão na Justiça “por um julgamento justo”.
“Todo processo criminal é único, mas esse caso trata da história trágica de um homem pobre, analfabeto, que não suportava mais ver sua irmã ser vítima de agressões e que, uma vez preso, viveu a decepção máxima de perder seu filho. João Francisco da Silva merece um julgamento justo, não sendo necessária a manutenção da sua prisão preventiva”, declararam os advogados.
Caso João Miguel
João Miguel desapareceu em 30 de agosto de 2024. O garoto, que morava com tios e primos no setor de chácaras do Lúcio Costa, no Guará, saiu para comprar um salgadinho em um mercado próximo de casa, por volta das 18h, e não voltou mais.
Em 13 de setembro, o corpo do menino foi encontrado em uma vala. O cadáver estava enrolado com um lençol, com as mãos amarradas e um tecido preso ao pescoço. Os policiais chegaram ao local após denúncia anônima.
À época, a principal hipótese levantada pelas investigações era de que o crime teria sido cometido por vingança, mas não se sabia o real motivo. O fato de o pai de João Miguel estar preso por ter atirado contra o cunhado levava o público a tentar ligar uma coisa a outra. A suspeita de que a mãe do menino seja integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) também era levada em consideração na tentativa de entender a morte do garoto. Nada disso, no entanto, tinha relação com a morte brutal.
Em outubro daquele ano, a 8ª Delegacia de Polícia identificou os envolvidos na morte do garoto. Uma adolescente de 16 anos confessou que matou o menino asfixiado. Ela disse que um carroceiro, identificado como Jackson Nunes de Souza, 19 anos, namorado dela, teria apenas ajudado a desovar o corpo de João Miguel. Dois irmãos de Jackson, de 13 e 16 anos, também teriam participado.
João Miguel, Jackson e a namorada eram vizinhos e tinham certa proximidade. Miguel costumava andar na residência do casal. A motivação do crime seria uma série de furtos que o garoto estaria cometendo na casa de Jackson e da companheira, segundo versão dela.
O estopim teria sido o sumiço de um cavalo. Segundo apurações, João Miguel, Jackson e a namorada de Jackson teriam ido a cavalo ao Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) buscar alimentos para os bichos. Jackson e a namorada foram usando um animal, e João Miguel, outro.
De acordo com a namorada de Jackson, Miguel teria soltado o cavalo de propósito, fazendo com que o bicho fugisse. A série de acontecimentos teria irritado os assassinos.
Na data da morte, conforme explicou delegada Bruna Eiras, a frente desse caso, os envolvidos chamaram o menor para fumar narguilé. “Enquanto ele acendia o narguilé, a menina se posicionou por trás de João, pegou uma corda e o puxou pelo pescoço. Enquanto isso, o outro menor de 16 anos, irmão de Jackson, deu murros e tapas no rosto de João e colocou um vestido na boca dele, fazendo com que ele se asfixiasse e morresse”, relatou Bruna Eiras.