O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o mercado financeiro está “chateado” porque, segundo ele, o governo Lula (PT) deu certo. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, publicada neste domingo (30/3), Haddad disse que o mercado estava “excessivamente pessimista” desde a vitória eleitoral de Lula, em 2022.
Alguns gestores de ativos que apostaram contra o governo “perderam dinheiro”, disse ele. “Eles estão chateados porque o governo deu certo”, resumiu.
Haddad insistiu que foi duro com os gastos, cortando R$ 35 bilhões do Orçamento em 2024, e disse que o governo continua a arrumar as finanças públicas. O jornal salientou, porém, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que a dívida bruta do governo brasileiro saltará de 87,6% do PIB no ano passado para 97,6% em 2029.
Questionado se o governo tinha o déficit fiscal sob controle, ele respondeu que essa era uma pergunta que não fazia sentido e comparou seu cargo a um cara em um cockpit de Fórmula 1 no meio de uma corrida. “Você não liga para ele e pergunta se tudo está sob controle”, comparou. “Acho que temos uma boa equipe, um bom carro e, quem sabe, talvez até um bom piloto.”
Na entrevista, Haddad também defendeu que o Brasil está numa posição privilegiada no cenário global para enfrentar uma guerra comercial como um dos principais exportadores de commodities.
Ele destacou as parcerias com a China (que ele classificou como “excelente relação bilateral”) e com os Estados Unidos (“um parceiro histórico”) e também a proximidade com a União Europeia (UE) por meio do Mercosul. O acordo entre os dois blocos foi assinado em dezembro de 2024, depois de mais de 20 anos de negociação, mas ainda aguarda ratificação dos Parlamentos de cada país.
O acordo elimina tarifas em 90% do comércio bilateral, mas tem o desafio de superar a resistência de alguns Estados membros da UE, incluindo França e Polônia.
Na guerra comercial entre China e EUA, o ministro descartou a possibilidade de o Brasil escolher um lado entre seus dois maiores parceiros comerciais.
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O titular da Fazenda também frisou que o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, e sua indústria de processamento tem ganhado importância. “O Brasil não é mais apenas o celeiro do mundo. O Brasil está se transformando em parte em uma espécie de supermercado do mundo”, afirmou.