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Casal investiu dinheiro “de uma vida” em lotes divulgados por Leonardo

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O casal Eloizio Ramos Cardoso e Maria da Glória Rodrigues está entre as pessoas que entraram com ação judicial contra a empresa AGX, do empresário Aguinaldo José Anacleto, e o cantor Leonardo, após adquirir cinco unidades de lote em residencial irregular divulgado pelo artista em Querência (MT), cidade que fica no Vale do Araguaia, a 765 quilômetros da capital Cuiabá. O cantor nega que seja sócio do empreendimento.

Veja: 

 

Ele é pedreiro, e ela trabalha como diarista. O casal contou ao Metrópoles que morava em Goiânia (GO) antes de se mudar para o interior de Mato Grosso, em busca de melhores condições de trabalho e com a intenção de empreender. Com o “dinheiro de uma vida” em mãos, juntado à custa de muito suor, eles pretendiam abrir uma fábrica de gesso na cidade, mas logo perceberam que não havia campo para isso.

Eloizio e Maria optaram, então, pela compra de lotes. O marido dizia, segundo a esposa, que assim poderia trabalhar, vender e movimentar o dinheiro que eles haviam juntado. À época, surgiram em Querência os residenciais e loteamentos divulgados por Leonardo, em parceria com a AGX, e não restaram dúvidas ao casal. Eles compraram cinco lotes no residencial Munique Smart Life.

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Leonardo esteve na cidade mais de um vez, entre 2021 e 2022, para lançar empreendimentos ao lado da AGX, do empresário Aguinaldo Anacleto

Aguinaldo Anacleto e Leonardo, em Querência (MT), durante lançamento de empreendimento imobiliário
Leonardo e o empresário Aguinaldo Anacleto, dono da AGX Smart Life
Outdoor com imagem de Leonardo, instalado na entrada do terreno onde seria o residencial Munique Smart Life
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Leonardo em visita a Querência (MT) para divulgar e lançar emprendimento imobiliário, ao lado do empresário Aguinaldo Anacleto, da AGX e do, então, prefeito da cidade Fernando Gorgen (União)

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Leonardo esteve na cidade mais de um vez, entre 2021 e 2022, para lançar empreendimentos ao lado da AGX, do empresário Aguinaldo Anacleto

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Aguinaldo Anacleto e Leonardo, em Querência (MT), durante lançamento de empreendimento imobiliário

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Leonardo e o empresário Aguinaldo Anacleto, dono da AGX Smart Life

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Outdoor com imagem de Leonardo, instalado na entrada do terreno onde seria o residencial Munique Smart Life

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Maria relatou ao Metrópoles que eles deram uma entrada de R$ 26 mil e começaram a pagar o restante do valor em parcelas de R$ 2 mil. Depois de evidenciada a suspeita de fraude e a falta de respostas, sendo que a promessa era de que os terrenos seriam entregues rapidamente — “dentro de seis meses, poderia construir”, diz ela —, o casal foi orientado pelo advogado a não pagar mais, em agosto do ano passado.

Desde o fechamento do negócio, já se vão três anos de espera. Hoje, o terreno onde seria o loteamento é alvo de ação de reintegração de posse por parte dos antigos donos, que alegam que o empresário Aguinaldo Anacleto não fez o pagamento, conforme o combinado, e estaria irregular junto à Prefeitura de Querência, faltando apresentar licenças ambientais e projetos básicos.

“Levar um golpe desse é um baque grande”

O casal entrou com ação contra a empresa, o dono Anacleto e o cantor Leonardo, pedindo a rescisão do contrato, a devolução do dinheiro pago e indenização por danos morais. No total, a causa tem um valor estimado em R$ 83.996,01.

A documentação assinada por Eloizio e Maria em maio de 2022 dizia que o loteamento estava em fase de aprovação perante órgãos públicos, mas que a área onde ele seria construído encontrava-se “adquirida, quitada, escriturada e devidamente registrada”.

A defesa alega, no entanto, que, após consulta no cartório local, descobriu-se que os lotes não estavam registrados. “Os Autores efetuaram a compra acreditando que os lotes estavam regulares, jamais que estavam sendo usados em uma prática de venda enganosa e lesiva”, diz o relatório da ação.

“Foi muito triste [perceber que seria um golpe]. Meu marido tem problema de pressão, é hipertenso, ficou ruim depois disso. Somos pobres, lutando para sobreviver, e levar um golpe desse tamanho é um baque grande. Quando já estávamos aqui, o Leonardo veio aqui, acho que umas duas vezes. Quando ele vinha, a cidade parava. Era tanta gente para tirar foto… Eu nunca imaginaria entrar em um golpe com uma pessoa famosa dessa envolvida”, lamenta Maria.

Vídeo divulgado pela AGX dizia: “em parceria com o cantor Leonardo”. Veja:

 

Responsabilização solidária de Leonardo

A ação movida pelo casal busca a responsabilização solidária de Leonardo. “É imperioso destacar que, no presente caso, a parte ré, um artista de notório reconhecimento de nome Emival Eterno Costa, mais conhecido pelo nome artístico Leonardo, atuou de maneira deliberada e fraudulenta, simulando ser sócio do empreendimento imobiliário em questão”, afirma a defesa.

E continua: “Foram impressos diversos materiais em nome do cantor Leonardo, diversos vídeos e reportagens falando que ele iria dar início em mais um empreendimento/investimento, outdoors e até mesmo um estande de vendas com o nome “Talismã”, nome esse utilizado pelo artista em diversos empreendimentos e até mesmo em sua fazenda que é de conhecimento notório em todo o país devido a sua fama”.

Veja:

imagem colorida de Estante da Talismã ao lado de outro da AGX, no Centro de Querência (MT)
Estande da Talismã ao lado de outro da AGX, no Centro de Querência (MT)

O que diz Leonardo e a defesa do casal

Em resposta ao Metrópoles, Leonardo informou, via assessoria de imprensa, que os advogados dele já estão sabendo do caso e tomando as providências cabíveis. O cantor alega que atuou, apenas, como garoto-propaganda do empreendimento da AGX, em Querência, assim como costuma anunciar em campanhas de empresas e produtos diversos. Ele afirma, ainda, que não é sócio e não tem participação no negócio.

Em contraponto a isso, a defesa do casal Eloizio e Maria alega que o comportamento dele teria, por finalidade, “confundir a percepção de investidores, consumidores e terceiros interessados, levando-os a acreditar que o artista teria participação ativa na administração e gestão da empresa, quando, de fato, nunca integrou formalmente o quadro societário, e nunca fez questão de desmentir ou corrigir informações sobre tal sociedade”.

“A simulação de tal vínculo societário, além de comprometer a lisura das relações negociais e jurídicas, impõe graves prejuízos a todos os envolvidos, configurando-se como verdadeiro ato ilícito. Tal fraude não apenas viola os princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato, como também evidencia um claro desvio de finalidade na conduta do Réu”, afirma a defesa.

O que diz o empresário Aguinaldo Anacleto

O grupo AGX, do empresário Aguinaldo Anacleto, alega que o projeto do residencial Munique Smart Life “não envolve a venda de lotes, mas sim a captação de investidores por meio de cotas dentro de uma Sociedade em Conta de Participação (SCP), estrutura jurídica devidamente regularizada e em conformidade com a legislação vigente”.

A empresa afirma, ainda, que “um pequeno grupo de investidores, incentivado por um advogado que criou uma associação irregular, ingressou com ações judiciais sem embasamento, distorcendo informações sobre o projeto”. Segundo a companhia, o empreendimento segue em desenvolvimento, apesar da paralisação nos últimos anos. “Eventuais questionamentos jurídicos estão sendo tratados no devido foro competente, com a plena convicção da regularidade dos procedimentos adotados”, aponta a AGX.

Em relação ao processo de reintegração de posse, movido pelos antigos donos do terreno, que alegam atraso no pagamento do valor acordado, a empresa diz que não há decisão judicial definitiva sobre o caso e contesta os argumentos do vendedor da área. Segundo a AGX, ele “fixou o pagamento em sacas de soja e não aceitou a variação do índice conforme determina a lei”.

“A negociação segue judicialmente, mas não há inadimplência reconhecida e a paralisação das obras decorre da inadimplência de investidores, incentivada por calúnias e desinformação”, alega a empresa.

Sobre a participação do cantor Leonardo, a AGX afirma que ele “não tem nenhuma vinculação ou responsabilidade contratual sobre a administração e execução dos empreendimentos em Querência”. O cantor, segundo a empresa, “firmou uma parceria de publicidade, cedendo o direito de uso de sua imagem. Ao firmar essa parceria, ele também apostou no empreendimento, acreditando em seu sucesso, mas não possui qualquer participação ou responsabilidade administrativa nos empreendimentos”.

A parceria com o artista, conforme a AGX, “envolveu o uso de sua imagem e, em contrapartida, a participação em cotas, nos mesmos moldes dos demais clientes”.

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