Depois do sucesso de Café com Deus Pai, de Junior Rostirola, que dominou o mercado editorial em 2023 e 2024, o cenário literário brasileiro ganhou um novo protagonista inusitado: os livros de colorir Bobbie Goods.
O devocional de Rostirola, lançado pela Editora Vélos, virou um fenômeno ao unir o público religioso e leitores ocasionais. O sucesso fez especialistas analisarem o poder de alcance das obras voltadas ao público evangélico — especialmente por o autor ser pastor. Agora, em 2025, o topo dos rankings é ocupado por uma tendência bem diferente: livros sem texto, focados apenas em ilustrações para pintar.
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De acordo com o levantamento da PublishNews, site especializado no mercado editorial, os quatro livros mais vendidos do ano são da série Bobbie Goods, publicada no Brasil pela HarperCollins: Do Dia para a Noite (69.773 cópias), Dias Quentes (58.368), Isso e Aquilo (53.345) e Dias Frios (42.938). O mesmo resultado se repete na Amazon, onde a coleção ocupa as primeiras posições entre as obras mais compradas.
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O que é Bobbie Goods?
- Bobbie Goods são livros de colorir da artista norte-americana Abbie Goveia.
- Os livros viralizaram nas redes sociais por seus desenhos fofos e nostálgicos de animais em cenas do cotidiano.
- As obras se tornaram populares como uma forma de relaxar, conquistando adultos e crianças.
Os títulos de desenho superam até mesmo O Segredo Final (Editora Arqueiro), novo livro de Dan Brown — o primeiro em mais de cinco anos com o personagem Robert Langdon, protagonista de sucessos como O Código Da Vinci e Anjos e Demônios. O autor norte-americano aparece apenas na quinta posição da lista, com 42.545 exemplares vendidos, enquanto a série Bobbie Goods já ultrapassa 224 mil cópias. Veja aqui a lista de mais vendidos do ano.
O que o ranking diz sobre o público nacional?
A presença de livros de pintura em rankings de obras literárias gera debate entre especialistas do setor. Pedro Pacífico, o Bookster, escritor e influenciador com foco em literatura, comentou sobre o tema em conversa com o Metrópoles.
“Eu não sou contra livros de colorir. Eles têm a função de entretenimento, de ajudar a ansiedade, a concentração. Mas, na minha opinião, a presença deles na lista de livros mais vendidos acaba deturpando a análise do consumo pelos leitores. O que está sendo lido, quando, na verdade, um livro de colorir não representa o que está sendo lido porque não é um livro de leitura”, aponta ele.
A presença deles nessa lista prejudica tanto a análise do mercado editorial, como a do próprio consumidor.
Pedro Pacífico
Pedro, autor do livro Trinta Segundos sem Pensar no Medo: Memórias de um Leitor (ed. Intrínseca), ainda comentou que a presença dos livros de desenho na lista indica que o público esteja buscando por atividades mais práticas, que não exijam o foco pedido pela literatura.
Pedro Pacífico
“Em um momento em que as telas acabam ocupando um espaço muito grande no dia a dia das pessoas e contribuem para uma atenção fragmentada, para estímulos muito rápidos, a leitura exige o oposto. Você precisa se esforçar para conseguir ler. O colorir exige menos, porque é manual. Isso mostra que as pessoas estão usando o tempo livre para fazer uma atividade que não seja a leitura”, finaliza.
Rafaella Machado, editora executiva da editora Record, afirma que, mesmo procurando por livros de colorir, o público passou a frequentar livrarias, inflamando o meio livreiro que sofre para manter as máquinas funcionando desde a pandemia da Covid-19.
“Ainda vivemos em um país de não-leitores, em que a maioria da população lê menos do que um livro por ano. Quando um livro fura essa bolha, mesmo que seja um livro de colorir, isso representa que uma boa parcela da sociedade está fora das telas e frequentando livrarias. Significa também que essas livrarias e editoras que comercializam livros de colorir estão recebendo recursos para investir no principal negócio do nosso mercado, que é literatura”, afirma.
No fim das contas, a lista dos mais vendidos reflete uma realidade nacional, não somos ainda um país de leitores. Mas sempre que um livro chega na estante daqueles que não leem, nos aproximamos um pouco mais de mudar esse retrato.
Rafaella Machado
“Alguém colocou Bobbie Goods no carrinho e pode ter aproveitado para dar uma chance a um romance naquela mesma compra. Aos poucos, o espaço das livrarias vai se abrindo para mais gente”, finaliza Rafaella.
A editora HarperCollins, responsável pela publicação no Brasil, também acredita que o passatempo estimule o contato com os livros e incentive o hábito da leitura.
“Além de ser uma atividade para todas as idades e ser um momento longe das telas, os livros de colorir também funcionam como uma porta de entrada para o universo da leitura, despertando a curiosidade e conquistando o público, levando possíveis novos leitores para as livrarias. E observando as listas, há outros tipos de livros que fogem do comum, como os de fotografia ou de brinquedo, que também estão nesses lugares de destaque”, disse a editora, em nota.


