Há cada vez mais procedimentos disponíveis para salvar pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC), porém o preço das tecnologias vem aumentando. Um estudo publicado na revista científica The Lancet Regional Health – Americas em janeiro de 2025 revelou que o custo médio por paciente no tratamento de AVC no país é de US$ 27,4 mil por caso, o equivalente a mais de R$ 150 mil.
A cifra é mais que o dobro da média da América Latina, que ficou em US$ 12,2 mil. Em 49% dos casos, os pacientes responderam bem ao tratamento, com pouco ou nenhum comprometimento funcional. Estima-se que as consequências do AVC na redução das capacidades individuais tenham um custo médio de R$ 143 mil ao ano por paciente.
A pesquisa, liderada pela neurologista Ana Cláudia de Souza, do Hospital Moinhos de Vento, analisou dados de 1,1 mil pacientes em oito países latino-americanos: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai.
Como é feito o tratamento do AVC?
O trabalho destacou que 74% dos pacientes receberam apenas tratamento com medicamentos simples, como o ácido acetilsalicílico (AAS), recomendado a pacientes que tiveram o AVC há mais de quatro horas ou que não podem passar pelos tratamentos mais complexos por suspeita de hemorragias ou AVCs prévios.
Os outros 18% foram submetidos à trombólise intravenosa (injeção mais forte para dissolução dos coágulos) e 4% à trombectomia mecânica, um procedimento cirúrgico para acabar rapidamente com a obstrução.
Os custos mais elevados estiveram associados a procedimentos complexos, como a trombectomia, que aumentou os gastos em 3,1 vezes em comparação com o tratamento convencional (custando em média US$ 20 mil). A duração da internação hospitalar emergiu como o principal fator de variação nos custos.
Disparidades regionais e desafios
Os resultados mostraram diferenças significativas nos custos entre os países influenciadas pela infraestrutura hospitalar e pelos perfis de risco dos pacientes. No Brasil, os gastos foram impulsionados pelo uso intensivo de setores como angiografia e unidades de terapia intensiva (UTIs). O Chile registrou os maiores custos relacionados a profissionais de saúde, seguido pelo Brasil.
Segundo Ana Cláudia, a falta de padronização nos protocolos de atendimento e a desigualdade no acesso a tratamentos de reperfusão são obstáculos que precisam ser superados para melhorar a eficiência e reduzir custos.
Prevenção como solução
O AVC é a principal causa de morte e incapacitação no Brasil, com 109 mil mortes registradas em 2023. A neurologista alerta para o aumento de fatores de risco, como tabagismo, consumo de alimentos ultraprocessados e sedentarismo, especialmente entre jovens. “Campanhas de conscientização e prevenção poderiam reduzir significativamente os custos associados à doença”, afirma.
O estudo sugere que investimentos em políticas públicas são essenciais para garantir acesso equitativo a tratamentos e otimizar a alocação de recursos. Enquanto isso, o desafio de reduzir os custos do AVC e aumentar a eficácia do tratamento continua urgente, exigindo ações coordenadas entre governos, gestores de saúde e sociedade.
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