O padre Robson de Oliveira Pereira, que se viu envolvido em um escândalo de repercussão nacional por suspeita de desvio de dinheiro de fiéis em agosto de 2020 em Trindade (GO), tem usado os meios digitais de comunicação para divulgar sua nova obra. O sacerdote lançou a Associação Obra de Cristo.
Padre Robson foi transferido de Goiás, em agosto de 2023, após o escândalo envolvendo o nome dele, para a Arquidiocese de Mogi das Cruzes, em São Paulo. Antes disso, o sacerdote ficou cerca de três anos afastado das funções da Igreja Católica. As denúncias contra o padre tiveram o processo que as congregava arquivado pela Justiça.
Saiba mais sobre o padre
- O padre foi apontado como suspeito de apropriação indébita, falsificação de documentos, associação criminosa, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
- Padre Robson foi presidente da Afipe até 2020, quando foi deflagrada a Operação Vendilhões e veio à tona a suspeita de desvio de dinheiro doado por fiéis.
- Padre Robson, figura da Igreja Católica conhecida em Goiás e que agora atua em São Paulo, era o reitor da Basílica do Pai Eterno, em Trindade (GO).
- Padre Robson estava afastado das celebrações e proibido de se manifestar, mas retomou as atividades em agosto de 2023.
O sacerdote era um dos nomes mais evidentes da Igreja Católica em Goiás, sendo um dos líderes das celebrações em Trindade, município da Região Metropolitana de Goiânia, onde residem mais de 140 mil habitantes, popularmente conhecida como a “Capital da Fé”.
Durante muito tempo, ele foi a figura central do Santuário do Divino Pai Eterno, que tem uma festa religiosa anual e que atrai multidões de fiéis durante todo o ano. Robson ajudou a construir um império religioso e de mídia em torno do santuário e também contribuiu para divulgar e ampliar o alcance da festa.
Hoje, a nova empreitada de padre Robson é a Obra de Cristo. O site da instituição afirma que a associação tem por objetivo promover a evangelização.
“Obra de Cristo é uma associação criada pelo Pe. Robson de Oliveira, que reúne fiéis que sentem o chamado para uma vida plena em Cristo, colaborando para que a Palavra, o amor e os ensinamentos de Jesus estejam constantemente no cotidiano de muitas pessoas pelo Brasil e o mundo”, diz descrição no site.
O site da Obra de Cristo tem espaço para reflexão, onde há a divulgação de novenas, orações, liturgia diária, santo do dia, por exemplo. O foco do padre tem sido um pedido recorrente para que o público dele se cadastre no portal.
O site da nova obra de padre Robson tem três links para redes sociais. No entanto, os atalhos para os perfis no Facebook, Instagram e YouTube levam para perfis do sacerdote. No Facebook e no Instagram, as postagens são mais direcionadas a divulgar a agenda de missas de padre Robson. Já no YouTube há transmissão ao vivo das missas e postagens de séries de terços e do quadro “Oração da Noite”.
“Entre lá no site, acenda a sua vela da fé e também faça o seu cadastro e vamos juntos evangelizar”, costuma pedir o padre ao fim das publicações. Nas publicações assistidas pela reportagem, não houve pedido de doações, no entanto, o portal da associação também abre espaço para o recebimento de doações de “qualquer quantia”.
No YouTube, o canal do padre Robson tem 309 mil inscritos. As missas transmitidas ao vivo costumam ter de 3 mil a 7 mil visualizações.
No canal dele no YouTube são em média quatro vídeos diários com mensagens de evangelização que, não raro, terminam com o pedido de cadastro no site Obra de Cristo, onde são recolhidas as doações para a associação e também preces e testemunhos sobre graças.
Na terça-feira (25/2), por exemplo, houve quatro vídeos postados: “Oração da Noite”, “Santo Terço – Mistérios Dolorosos”, “Terço da Batalha – Solução dos Problemas” e “Terço da Misericórdia”. Os vídeos mais recentes têm de 5 mil a 18 mil visualizações.
Na agenda de missas do padre, disponível no perfil dele no Instagram, consta que em fevereiro o padre realizaria cinco missas, quatro delas na Igreja Nossa Senhora Aparecida e São Roque, em Mogi das Cruzes, sempre às 9h de terças-feiras. Há ainda uma agenda no município de Santa Izabel, no dia 15.
Nova obra
A nova obra de padre Robson foi revelada pelo Metrópoles em agosto de 2024. O formato da “Obra de Cristo” tem semelhanças com o da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), uma vez que padre Robson é fundador e presidente da nova instituição. A Afipe foi a instituição que o sacerdote liderava quando houve denúncias de supostos desvios de recursos doados por fiéis. O processo acabou arquivado pela Justiça. A Afipe tinha como foco a construção do novo santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).
O projeto da obra da Afipe em Trindade está orçado em torno de R$ 1,4 bilhão. O valor divulgado no início da obra foi de R$ 100 milhões. Foto divulgada pela Afipe, anos atrás, mostra o maior sino suspenso do mundo, produzido na Polônia e que será instalado na nova igreja em Trindade. A obra tem pelo menos 12 anos de existência.
Apesar de fevereiro ser um mês com a maioria das missas sediadas no local-base do padre, em Mogi das Cruzes, conforme a agenda dele, outros destinos foram visitados por padre Robson nos últimos três meses: Santa Izabel, Sorocaba, Itaquaquecetuba, São Miguel Paulista e Suzano.
No dia 21 de dezembro de 2024, padre Robson foi mais longe. Ele esteve em Criciúma (SC) para celebrar uma missa na Inauguração da Cancha de Bocha do Parque do Rio Maina. Não há postagem desse evento no canal dele no YouTube.
No Instagram, padre Robson é seguido por 768 mil perfis. O padre Robson segue apenas 18 perfis. Há figuras públicas da Igreja Católica, como o papa Francisco e o padre Marcelo Rossi, e outras pessoas que não são famosas.
O Metrópoles não conseguiu contato com padre Robson para se manifestar a respeito de sua nova obra.
O escândalo
O escândalo que expôs padre Robson foi decorrente da Operação Vendilhões, realizada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). As apurações do MP resultaram na denúncia do padre e de outras 17 pessoas por organização criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Houve suspeita de desvio de R$ 120 milhões. O caso foi arquivado.
